O Conto de um Carnaval no Rio

by Juliana

Agora que a confusão com a prefeitura acabou, Habemus Carnaval no Rio em 2018!  Compartilho aqui minha experiência de 2017 e quem sabe inspiro você a finalmente riscar esse item da lista!

É difícil acreditar que sendo Brasileira eu nunca fui ao Carnaval, então quando minha agenda de viagem me colocou em São Paulo a negócios na semana anterior, nao pensei duas vezes.

Observação ao camarada viajante: todo mundo no Brasil tem algum tipo de plano de viagem para o Carnaval, é feriado nacional e as escolas fecham.  Espere atrasos moderadamente irritantes e multidões em todos os lugares, desde os aeroportos aos hotéis, às ruas e às praias.

Lounge vida Fácil

Amaldiçoada por vários voos cancelados nos últimos dias por conta de uma turbina queimada da LATAM, uma tempestade gigante e falta de funcionários no aeroporto para organizar o tráfico adicional de viajantes, minha ponte-aérea de 45 minutos para o Rio naquela manhã virou uma absurdamente irritante espera de 11 horas numa bagunça de um Aeroporto de Congonhas.  Voltar ao centro não era opção porque a volta ao aeroporto estaria comprometida por várias ruas fechadas para blocos de Carnaval.  Decidi então ficar por ali mesmo, lentamente me espalhei no sofa do lounge mais tranquilo e tirei aquela soneca.  Não necessariamente a melhor experiência de lounge, mas muito melhor que passar o dia à la Tom Hanks no filme O Terminal, ponto pro Priority Pass!  Mais tarde almocei, me reposicionei no maior, mais movimentado Lounge Bradesco Centurion onde tem um café melhor, lanchinhos e docinhos.  As próximas horas se passaram entre meus emails e ocasionalmente assistindo por cima de meu computador à trocas de comentários dos outros viajantes frustrados pelos respectivos atrasos, regadas a Nespresso.

Finalmente foi anunciado um portão para meu voo no começo da noite, e ao descer em direção ao mesmo, percebi o completo caos que se encontrava.  Uma briga se iniciou no portão ao lado onde passageiros descontrolados agrediam fisicamente os funcionários da companhia aérea enquanto outros gritavam em protesto.  Sem saber o que vinha acontecendo nos portões o dia todo, pensei “talvez não tenha sido tão ruim passar o dia inteiro esperando no (lounge do) aeroporto”

Desfilando como Carioca

Saindo do avião, fui abraçada por uma humidade quente no Santos Dumont e instantaneamente São Paulo parecia estar do outro lado do mundo.  Logo me juntei ao animado grupo de amigas cariocas que me acolheram de braços abertos, bem como os do Cristo Redentor.

Vestimos nossas fantasias de feiticeiras e partimos rumo ao meu debut no Sambódromo Marques de Sapucaí desfilando pela Renascer de Jacarepaguá, uma escola de samba menor, da Série A.  Não me continha de curiosidade, empolgação e o maior frio na barriga, parecia criança antes de apresentar a peça de teatro da escolinha.  Nos posicionamos em nossa ala onde éramos um com dúzias de outros vestindo a mesma fantasia e senti um clima de comunidade na concentração.  De repente, fogos! Percussão! Samba! Vamos lá!

Leva de 25 a 30 minutos para cruzar a avenida e eu fui flutuando todo o percurso, como se numa longa nuvem desenhada por Oscar Niemeyer, cantando (parte do) enredo enquanto os espectadores nas arquibancadas torciam por nós.  Ter participado no desfile da Série A foi a melhor decisão para a minha primeira vez porque existe menos pressão com posicionamento, coreografia ou saber cantar o enredo que nas escolas do Grupo Especial, assim a experiência foi mais tranquila e divertida.  Com os olhos cheios de lágrimas, derretendo de suor dentro da fantasia, cheguei ao Arco da Apoteose num momento de puro êxtase, quando caiu a ficha que  tinha acabado de fazer parte de algo enorme, algo que comunidades inteiras trabalham o ano todo, culminando nessa breve, porém tão emocionante experiência.


O Evento Principal

Voltando do sambódromo as 6:30 da manhã, no dia seguinte ficamos de boa, passando por alguns Blocos e o resto da tarde entre cervejas geladas e frango à passarinho no Pavão Azul em Copacabana e a noite no Chora Me Liga, obviamente para guardar as energias para a grande noite seguinte.

Pronta com meu abadá customizado, me juntei ao grupo e lá fomos nós à Sapucai mais uma vez, onde é importante que se saiba exatamente  em que setor do sambódromo você assistirá ao desfile porque o motorista terá que fazer um caminho completamente diferente pela cidade para chegar ao lado certo.  A chegada ao camarote foi tranquila, e após conferidas as credenciais, fomos recebidas com espumante e hors d’oeuvres.

O desfile do Grupo Especial começou pontualmente as 22h com a União da Ilha do Governador e procedeu durante toda a noite até que o último carro alegórico da Mangueira cruzou a avenida.  As escolas de samba são avaliadas por uma bancada de juízes e é tudo uma grande competição que pode fazer vencer ou rebaixar a comunidade que trabalhou duro o ano todo em preparação ao evento.  Tempo é extremamente importante e cada escola de samba tem não menos que 65 e não mais que 82 minutos para cruzar a avenida para evitar deduções de pontos, entre outros quesitos.

Nosso camarote  estava localizado bem no começo da Sapucaí, e no meu ponto de vista, foi uma localização privilegiada pois estávamos ao lado do primeiro recuo da bateria.  Isso quer dizer que tivemos mais ou menos 45 minutos da mais alta qualidade de percussão ao vivo de cada escola de samba so para nós antes que a ala voltasse à avenida em direção ao final, sendo substituída por gigantescos carros de som.  As cores são mais vivas, a musica toca mais alto e os carros alegóricos são muito maiores do que se imagina tendo visto pela TV, o sambódromo inteiro vibra ao som da bateria e a energia é indescritível.

Esperávamos ansiosamente a entrada da Mangueira, uma das mais famosas do Carnaval, fechando com um incrível desfile homenageando todas as religiões.  Foi então que a amiga mais corajosa pulou a cerca para a avenida, chamando todas nós para acompanha-la e seguir o último carro alegórico da Mangueira.  Minha segunda passagem pela Sapucaí foi tão emocionante quanto a primeira, mas dessa vez, de maneira sorrateira, despreocupada.  Não encorajando que se faça o mesmo, mas se você estiver num espírito aventureiro no fim do desfile, você se juntará a centenas de foliões prestando sua última homenagem à última escola de samba a cruzar a avenida antes da apuração dos resultados.  Esse é um momento tão feliz e pacífico que os organizadores tendem a deixar o povo passar e céus, que barato!

A diferença entre a Série A e o Grupo Especial é enorme e quando escolher qual assistir, escolha a última!  Definitivamente recomendo comprar ingressos para camarote ou frisa, e mesmo que mais caros, você aproveitará o desfile do conforto de sua própria área, onde comida e bebida são servidas à vontade até o amanhecer, você pode fazer uma pausa no ar-condicionado e os banheiros sao limpos e não tem filas.  Se você está indo até o Rio de Janeiro para o Carnaval, faca-o direito, isso é  com um completo buffet de jantar e uma caipirinha gelada na mão a noite toda.  Do lado do expectador, um pode realmente entender a grandiosidade do espetáculo e de fato é uma experiência para guardar para toda a vida.

Tantas Opções – mini guia

Tem Carnaval para todo mundo no Rio, e além dos desfiles principais, a cidade toda sai às ruas com criativas fantasias e grupos inteiros se coordenam com fantasias iguais ou complementares, mas um item não pode faltar: uma quantidade absurda de glitter!

Blocos de rua várias ruas da cidade são fechadas para acomodar a passagem de bandas, carros de som, ambulantes vendendo comidas e bebidas, e uma multidão de foliões se formará ao redor para seguir a folia pelas ruas, cantando, dançando e bebendo na maior diversão.  Algumas sugestões são o mais tradicional Cordão do Boi TaTa, Bloco do Sargento Pimenta que toca musicas dos Beatles em ritmos de Carnaval e Banda de Ipanema focado no publico GLS e todos são bem-vindos a participar.  Para aqueles com mais energia para enfrentar multidões, tem o Monobloco e o Cordão do Bola Preta, muito maiores, extremamente populares, uma experiência bem local.  Atenção especial aos pertences e não se perca do seu grupo.

Baile do Copa  o mais refinado balie de Carnaval da cidade, no elegante Copacabana Palace.  Fantasias de luxo e traje black-tie sao obrigatórios e ingressos incluem buffet de jantar, open-bar e dança a noite toda na companhia da alta sociedade carioca.

Chora Me Liga para os fãs de musicas Country e Axé, essa festa é um pausa ao samba 24h por dia e você nao vera foliões fantasiados.  É mais descontraída, no formato de show com palco, e nesse último ano foi no lindíssimo Jóquei Clube Brasileiro.

Lapa produzido pela Fundição Progresso, o evento gratuito de grande escala ao ar livre traz várias atrações musicais ao palco durante todos os dias do Carnaval.

Baile de Salão comemorar o Carnaval à moda antiga, bandas ao vivo em salões no centro histórico tocam as marchinhas que todos sabem cantar desde a infância e a nostalgia do passado toma conta.  Recomendo Trapiche Gamboa para a última noite (Terça feira de Carnaval) quando as baterias ja estão na reserva depois de todos os eventos.

Agradecimento especial às  queridas cariocas e especialistas em Carnaval Rosane Nicolau, Adriana Vinhaes e Izabela Garcez

2 Responses to “O Conto de um Carnaval no Rio”

August 04, 2017 at 11:42 pm, Emília Maria de Almeida Lemos Gomes said:

Muito bem escrito e retratou muito bem sua experiência. Mas acredito que sua disposição, curiosidade e bom humor contribuiram muito para que fosse ainda mais bacana! Parabéns! Foi um prazer conhecê-la e fazer parte da festa! Beijos e até a próxima!

August 15, 2017 at 2:10 am, Juliana said:

Querida Emilia,

O prazer foi meu! Obrigada por me acolher tao calorosamente na Cidade Maravilhosa nesse ultimo carnaval! Espero podermos repetir a dose no futuro! Beijo grande!

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